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Dior Haute Couture 2020-2021 Outono Inverno

08 jul 2020 • por Nina Kauffmann • 0 Comentários

Maria Grazia Chiuri revelou na segunda-feira (6) a última coleção de alta-costura para a Christian Dior, através de um filme de beleza notável que pareceu destinado a perdurar como uma obra clássica do cinema surrealista, que também relembra obras de arte de grandes mestres da pintura.

Filmado no meio de antigas ruínas dos arredores de Roma e dirigido por Matteo Garrone, o curta-metragem apresenta uma série de ninfas, sereias, faunos e criaturas mitológicas em um jardim misterioso, e refere-se ao “Théâtre de la Mode”, evocando a época do pós Segunda Guerra Mundial, quando os designers franceses desenvolviam manequins em miniatura e os enviavam  pela Europa e aos Estados Unidos para reavivar a indústria da moda francesa.

No filme de Garrone, as fantasias das maravilhosas criaturas silvestres são silenciosamente interrompidas por dois carregadores de hotel, que transportam um volumoso baú feito com o desenho da emblemática loja parisiense da Dior, localizada na avenida Montaigne. Imediatamente, intrigadas, as ninfas semi desnudas, distraídas com o banho sob uma antiga ponte romana, abandonam o entretenimento para descobrirem, no interior do baú, uma série de criações de alta-costura em miniatura.

A coleção integra o programa oficial da semana da Alta-Costura de Paris, uma temporada totalmente digital de três dias e 33 eventos.
 
A imagem de abertura do filme apresenta as costureiras – ou petites mains – do famoso atelier Dior em Paris, trabalhando na coleção: costurando a bainha de um vestido de cetim com uma agulha muito fina; ou colocando suavemente uma tira de tecido plissado em bonecas com cerca de 46 centímetros de altura.

Intitulado “Le Mythe Dior”, o filme de 10 minutos narra como essas divindades mágicas se apaixonam pelas roupas. Como quando um mensageiro tenta uma criatura em uma concha gigante e lhe oferece um vestido grego com nervuras, ao estilo das cariátides gregas. A mulher sai com cuidado e suas medidas são tiradas com uma fita, enquanto ao fundo ecoa a trilha sonora lunar de Paolo Buonvino.
 
“Durante a Segunda Guerra Mundial, artistas e costureiras se uniram para criar este teatro da moda: mini bonecas e figurinos projetados para serem enviados em uma turnê mundial. Eu queria transformar esse conceito e expressá-lo numa versão de hoje”, explicou Chiuri.

O designer também foi influenciado pelas “figuras soberbamente inspiradoras” do movimento surrealista: mulheres como LeeMiller, Dora Maar, Dorothea Tanning, Leonora Carrington e Jacqueline Lamba. Musas em cada um dos seus campos de formação, trabalho e expressão criativa.

“Não queríamos fazer parecer um desfile, queríamos contar uma história. Para mim, é Roma no quilômetro zero. Além disso, gosto do fato de Matteo Garrone fazer filmes como um artesão, que é a minha forma de fazer moda”, acrescentou.

A coleção é tão fascinante que até um par de espíritos da floresta apaixonados dentro de uma árvore desistem de se abraçar para admirar um vestido plissado de renda preta e camuflado. A roupa é tão elegante que desperta a antiga estátua de pedra de uma deusa, que anseia por tocar em um vestido de bainha. Tanto a mulher na concha como a antiga divindade lembram Maria Grazia com seus cabelos brancos.
 
Mesmo aqueles que não se importam muito com a moda, não podem deixar de admirar este belo filme. Após os dias sombrios do confinamento, este é um generoso presente da Dior para o mundo. Uma recordação oportuna da importância da fantasia em nossas vidas.
 
Chiuri, de origem romana, passou o confinamento em sua cidade natal, onde desenhou esta coleção e gravou o filme com Garrone. O diretor é mais conhecido por seu brilhante filme “Dogman”, um conto sombrio do sórdido inferno do narcotráfico que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2018, uma obra a anos-luz do estilo de Le Mythe Dior.

Enquanto Dogman retratou as favelas da Itália pós-industrial, o trabalho de Garrone para a Dior captura essa qualidade única dos cineastas italianos para evocar fantasias alucinantes: como um sonho de uma noite de verão nas colinas de Alban. Tudo pareceu apropriado, em um dia em que a Itália perdeu outro grande romano, Ennio Morricone, o compositor mais importante do cinema italiano.
 
Apenas Narciso, o herói da mitologia grega, famoso pela beleza e orgulho, incapaz de deixar de admirar o seu próprio reflexo num rio, não repararia nas roupas –, em um claro comentário feminista sobre a vaidade masculina.
 
Caminhando através de uma floresta de bambu, uma musa ruiva acaricia um vestido plissado translúcido preto, em forma de pagode, e vira-se para Pã – deus grego dos bosques, campos, rebanhos e pastores, que é também o deus da crítica teatral, representado com orelhas, chifres e pernas de bode –, que lhe dá permissão para encomendar o vestido. Uma compra que celebra depois, dançando no riacho, com o efeito recortado da luz filtrada através das árvores, para criar uma imagem de delicadeza rara, derivada da brilhante fotografia de Nicolaj Bruel.

“Esta coleção respeita o artesanato da Alta-Costura e o legado da Dior, com linhas nobres e pregas de seda especiais que mantêm os volumes. Além disso, as miniaturas são todas vestidos completos”, ressaltou Maria Grazia Chiuri.

No final do filme, até a sereia pegou um vestido cor de pedra, com o qual nada através de um rio coberto de musgo nas colinas de Alban, enquanto as ninfas tecem as tranças gigantes de sua líder de cabelos loiros com vestidos de cetim cor de ouro polido.



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