Um conceito conciso de alta-costura. A Chanel apresentou nesta terça-feira (7) sua mais nova coleção de alta-costura pela primeira vez online, com um vídeo elegante em homenagem ao lendário clube noturno parisiense Le Palace, em apenas um minuto e 22 segundos.
Filmado com grande estilo pelo renomado fotógrafo sueco Mikael Jansson, o filme foi o mais curto da temporada de Paris, que neste mês de julho ganhou um formato totalmente digital, com a participação de 33 maisons da Alta-Costura listadas no calendário oficial.
O vídeo de Jansson capturou com inteligência o clima daquelas noites no famoso clube, com suas festas à fantasia com temas selvagens que atraíram uma mistura louca de jet setters, fossem eles gays, heterossexuais, ricos ou pobres e dezenas de designers, especialmente o falecido designer da Chanel, Karl Lagerfeld.
“A coleção distingue-se pelo desejo de opulência, brilho e sofisticação. Eu tinha em mente princesas excêntricas, o tipo de mulher que Karl Lagerfeld gostava de estar acompanhado durante as soirées no Le Palace”, disse Virginie Viard, couturier da Chanel, em uma nota introdutória.
O filme apresentou essencialmente apenas cinco looks, todos gravados com apenas duas modelos, abrindo com a modelo holandesa Rianne van Rompaey em um deslumbrante vestido de tweed bouclé bordado, que mostrava os ombros e conseguiu ser ousado e rock n’ roll. Ela foi seguida pela beldade negra Adut Akech, que usava um terninho de tweed vinho. Van Rompaey também estava deslumbrante em um vestido de festaA-line, bordado com miçangas cintilantes, pérolas e flores metálicas, todos complementados por um par de botas amarradas acima do tornozelo. Akech também apareceu em um vestido de tafetá cinza pérola acompanhado por um broche bizantino, exatamente o tipo do broche favorito de Mademoiselle Coco.
“Imaginei uma princesa punk saindo do Le Palace ao amanhecer. Com um vestido de tafetá, cabelos longos, plumas e muitas joias. Esta coleção é mais inspirada em Karl Lagerfeld do que em Gabrielle Chanel. Karl iria ao Le Palace, acompanharia estas mulheres muito sofisticadas e muito bem vestidas, também muito excêntricas”, acrescentou a sucessora de Karl, Virginie Viard.
Rianne finalizou o vídeo com um vestido preto decotado, adornado por laço enorme, com magnífico pendente de prata de alta joalheria. O seu cabelo espetado no estilo punk, chic, em sintonia com a atmosfera selvagem do Le Palace. O vídeo capturou a essência das noites da danceteria, quando Mick Jagger, Andy Warhol, Roland Barthes e Jean-Paul Goode se reuniam, e onde Grace Jones cantou La Vie en Rose montada em uma Harley Davidson e envolvida em névoa de gelo seco.
O tema também marcou uma grande mudança de direção em relação ao último espetáculo de alta-costura de Virginie Viard, em janeiro, que fez referência à educação infantil de Coco em um convento austero na remota Aubazines.
“Gosto de trabalhar assim, indo na direção oposta ao que realizei da última vez. Queria complexidade, sofisticação”, ressaltou Viard, que nomeou o clima geral desta temporada de “romantismo do ultra-rock”.
No entanto, justamente por ser um vídeo, era difícil apreciar a grande habilidade dos parceiros de bordado da empresa, como Lesage e Montex, ou as contribuições de Lemarié e Goossens, que embelezaram os tweeds cravejados de lantejoulas, strass e pedras. Este tipo de artesanato requer um desfileao vivo, algo que a Chanel quer retomar na próxima temporada parisiense deprêt-à-porter.
No total, a coleção é composta por 30 looks, relativamente pouco para um desfile da Chanel Haute Couture, mas ainda um tanto impressionante, considerando o bloqueio de três meses. Segundo o comunicado, a coleção inclui vestidos curtos acinturados e saias corolla, além de vestidos longos com uma aparência muito grandiosa “e a nobre autoridade das heroínas que escapam das pinturas do século 19”. Enquanto os arcos pintados adornavam as jaquetas bolero e tweed feitos de fita listrada prateada. Embora nenhum destes tenha aparecido no vídeo.
Dois dias antes, a Chanel tinha adiantado o tema em um vídeo de 29 segundos do documentarista francês Loïc Prigent, que capturou o atelier da grife no momento final da preparação desta coleção outono-inverno 2020/21. Ao lado de uma maçaneta havia uma bolsa Chanel dourada, com uma nota que dizia: “Please Dare to Disturb” (Por favor, Ouse Incomodar). A porta então se abriu para revelar a equipe do atelier, na rue Cambon 31, dando os retoques finais às silhuetas criadas por Viard. Virginie Viard aparece usando sempre uma máscara branca. É a primeira designer a aparecer online nesta temporada em Paris. De fato, todos os funcionários usam máscaras, enquanto terminam de vestir a modelo brasileira Cristina Herrmann, uma das quatro a aparecerem no último vídeo da Chanel para a sua coleção Cruise, Balade en Méditerranée.
“Para mim, a Alta Costura é muito romântica por sua própria essência. Há muito amor em cada uma dessas silhuetas”, concluiu Viard.
