A moda ao vivo finalmente retornou na quinta-feira (16), quando Simon Porte Jacquemus apresentou seu maravilhoso desfile, que contou com um belo elenco caminhando através de um campo de trigo gigante no Val d’Oise, a noroeste de Paris.
Os convidados foram transportados durante 90 minutos para fora da capital francesa, para um planalto fértil e um campo de 1.000 acres (404,68 hectares), em um condado histórico conhecido como Vexin. O nome é derivado de uma antiga tribo gaulesa que viveu na região e que lutou contra Júlio César, hoje conhecida como Veliocasses, cujo nome significa honestidade.
E o desfile de Jacquemus foi um momento idílico que ecoou as gloriosas origens: modelos exóticos percorreram o campo que se estendia para além de onde os olhos podiam ver, enquanto o vento fazia as espigas de trigo dourado ondularem atrás deles. Uma evocação a Van Gogh no Vexin, onde os convidados se sentaram em velhas cadeiras de madeira afundadas no campo de trigo com os pés na terra.
Os modelos apareceram na crista da colina, a quase 300 metros de distância, antes de vaguearem pelo crepúsculo em uma passarela de madeira retorcida. As roupas também eram cheia de curvas e mostraram muita pele do casting impressionante.
Cortes que alongaram a silhueta, calças de cintura alta e pequenas capas de algodão, sutiãs elegantes, mini-boleros com mangas bufantes gigantes. A meio caminho entre um desenho curvo de Joan Miró e uma das primeiras fotos orgânicas de Karl Blossfeldt.
“Eu queria trabalhar no drapeado e encontrar um novo sistema de proporções”, disse o designer, que passou o confinamento na Provence, região onde nasceu.
Jacquemus injetou todo tipo de referência artística em sua coleção, e em uma soberba série de camisas masculinas que pontuaram o seu desfile misto: motivos dourados e angulosos de Alexander Calder, esboços do sol de Jean Lurçat, e até mesmo a cadeira P-Strut de Howard Meister, que apareceu em algodão branco. Algumas saias-lápis tinham a forma de pequenas espigas descascadas de trigo, um acabamento também utilizado para as charmosas bolsas em miniatura.
O desfile foi acompanhado por uma trilha sonora que incluiu Goran Bregović e uma música de flamenco extremamente apaixonante de Luz Casal, que ecoava através de alto-falantes escondidos nas profundezas do campo. O desfile foi destinado a apenas 80 felizes convidados, incluindo Isabelle Adjani, quase escondida sob um dos enormes chapéus de palha do criador. O público aplaudiu calorosamente o designer ao final do espetáculo, quando este apareceu no topo da colina para cumprimentar.
“Eu queria estar na natureza, mas não na Provence ou no sul, onde normalmente vou. E, não muito longe de Paris, dadas as circunstâncias”, explicou Simon Porte Jacquemus, lembrando os seus incríveis desfiles em um campo provençal de lavanda ou em uma praia perto de Marselha.
Os desfiles das grandes grifes retornarão a Paris no final de setembro, mas em pequenos grupos para respeitar as medidas de distanciamento social. Jacquemus não voltará a aparecer, pois acabou de apresentar a sua coleção primavera-verão 2021.
“O meu calendário? Desfile duas vezes por ano, com coleções mistas. Decidimos abrandar o ritmo. É muito menos cansativo para a minha equipe e isso é vital para mim. Quebra o ritmo pesado e inexorável da moda”, disse o designer, antes de entrar num coquetel pós-desfile, com o crepúsculo banhando os seus convidados nas mais belas luzes, de cortar a respiração.