Moda

Gucci celebra seu primeiro século de existência

21 abr 2021 • por Nina Kauffmann • 0 Comentários

A Gucci celebra este ano o seu primeiro século de existência. Para marcar a ocasião, o diretor criativo Alessandro Michele apresentou a sua melhor coleção para a maison.

O vídeo de apresentação, intitulado Aria, e revelado na noite de quinta-feira (15 de abril), está cheio de referências à história da marca – como as botas montaria adornadas com o nome de Saboy, onde nasceu o DNA da Gucci. Como jovem na virada do século passado, Guccio Gucci trabalhou como no grande hotel londrino que foi construído no local onde antes era a mansão do Conde de Savoy, e aberto em 1889, como o mais luxuoso hotel do Reino Unido. Tendo admirado a opulência e o estilo da elite europeia, Guccio Gucci decidiu criar uma marca para satisfazer o seu desejo de luxo e elegância.



A coleção, revelada num vídeo de 15 minutos, registra também a ligação da Gucci com a Balenciaga, outra maison estável do conglomerado da Kering. Desde casacos, blazers e parkas com os logotipos concorrentes da Balenciaga e Gucci, até à bolsa com o logotipo em couro preto, os produtos da colaboração irão certamente vender como água no deserto.

E qual é o Savoy Club de Alessandro Michele? Uma pequena discoteca de bairro, muito longe do palácio de cinco estrelas que brilha na Strand – a rua na zona de Westminster, perto do Palácio de Buckingham em Londres, com pouco mais de 1200 metros de comprimento.

As luzes intermitentes e ocasionais dos paparazzino vídeo realizado por Floria Sigismondi fazem eco ao filme dramático e policial americano dirigido por Ridley Scott, intitulado House of Gucci (2021). Uma história sombria de assassinato filmada em Itália nos dias de hoje – estrelada por Lady Gaga e AdamDriver – sobre como o neto do fundador, Maurizio Gucci, que foi assassinado por profissionais contratados pela sua mulher Patrizia Reggiani.

“Aí vem, tão certo como uma portagem na autoestrada. Este aniversário. Já passaram cem anos. Cem revoluções que questionam o curso do tempo”, escreveu Alessandro Michele no seu programa, citando alegremente escritores e filósofos.



Na coleção, a Gucci presta homenagem às suas raízes equestres, com uma série de soberbas camisas de jóquei, várias das quais transformadas em vestidos cocktail fechados por golas altas masculinas, tanto para eles como para elas. Ou o casaco de caçador com quatro bolsos, usado (como metade da coleção) com botas de montaria aparelhadas com correias e fivelas no tornozelo. Alessandro Michele chegou mesmo a inventar um novo tipo de jodhpurs, com pregas na frente, para apoiar o seu look andrógino.

Muitas roupas apresentam arreios para cavalos, correias, cascos, colarinhos de cavaleiro… No vídeo, os modelos caminham por um túnel gigante, iluminado por milhares de flashes cintilantes, ao som de uma seleção musical que recorda o estatuto inigualável da marca na cultura popular. Desde o tema Gucci Gangue do rapper americano Lil Pump até ao tema Gucci Flip Flops da rapper americana Bhad Bhabie (Danielle Bregoli).

Em termos de alfaiataria, a coleção foi magistral, nomeadamente o grande casaco militar apertado de um lado por sete botões dourados; ou a série de ternos usados com calças fluidas; ou os sobretudos cintilantes que se referem ao “diamante” inventado pelo próprio Guccio Gucci, mas declinado esta estação na versão maximalista do diretor artístico da Balenciaga, Demna Gvasalia.

Para a noite, Alessandro Michele entrou em alta velocidade, oferecendo tops de renda ultra glamourosos com mangas de penas de marabu, usadas sobre calças palazzo bordadas com lantejoulas; ou um magnífico vestido em rede de peixe e corrente de cristal, complementado por uma bolsa de diamante vermelho em forma de coração anatômico com artérias salientes. A coleção apresenta as joias finas da Gucci representadas por broches de ouro, gargantilhas de diamantes, colares em cascata, anéis episcopais volumosos, e piercing no nariz de argola com duplo “G” dignos de uma princesa Rajasthani.

Alessandro Michele não tem medo de arriscar, e não hesitou em vestir o famoso terno de veludo vermelho imaginado por Tom Ford, declinando-o à sua maneira, para homens e mulheres, com um corte dinâmico, acessórios em forma de arnês equestre e colares SM. E o designer italiano não se esqueceu de acrescentar um toque de humor suavemente transgressivo ao seu trabalho, como o coelho branco embalado nos braços de uma modelo com cabelo roxo, trajando um fato de calções totalmente coberto de logotipos, e usando botas montaria.

“De certa forma, a Gucci é para mim como um laboratório de hacking feito de incursões e metamorfoses. Uma fábrica de alquimia, de contaminações, onde tudo está interligado. Atravessando este limiar, recorri ao rigor não conformista da Demna Gvasalia e à tensão sexual de Tom Ford. Debrucei-me sobre as implicações antropológicas do que reluz, trabalhando sobre o brilho dos tecidos. Celebrei o mundo equestre da Gucci, transformando-o numa cosmografia fetichista. Sublimei a silhueta de Marilyn Monroe e o glamour da velha Hollywood. Sabotei o encanto discreto da burguesia e os códigos do terno masculino”, explicou o designer. E não poderíamos estar mais de acordo.


No seu vídeo, tudo parece convergir para uma forma de apoteose, quando os modelos arrojados e sublimes deixam o Savoy Club para se juntarem num Jardim do Éden, povoado de pavões brancos, catatuas e garanhões, e antes de os modelos voarem para o espaço, como se fossem sugados pelo céu. Por fim, a amazona ruiva entre cavalos brancos lança-lhes o coração cravejado de diamantes da Gucci.

Na verdade, da próxima vez que alguém disser que Alessandro Michele tende a repetir-se nas suas coleções, remeta-o para este vídeo. É difícil imaginar uma forma mais eficaz e convincente de celebrar o primeiro século da Gucci fundada em Florença em 1921.

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