A obra “Entidades” de Jaider Esbell (1979 – 2021), artista e escritor macuxi, foi exibida pela primeira vez em 2020, durante o festival CURA – Circuito de Arte Urbana em Belo Horizonte. O período era delicado e o país enfrentava os horrores da pandemia. As serpentes do artista ocuparam o histórico viaduto Santa Tereza, no centro da capital mineira, num movimento de visibilidade dos povos da floresta e críticas à cultura hegemônica, base do trabalho de Esbell.

Em diferentes culturas indígenas, a figura da serpente está associada justamente à criação de novos mundos e à transformação. E é nesse espírito que elas agora tomam para si o Teatro Amazonas em Manaus, na 8a edição do CURA. “Trouxemos para essa edição apenas artistas indígenas, num movimento de reverenciar a ancestralidade de Manaus, o que já estava aqui antes de existir a cidade. A obra do Jaider em um monumento histórico que é o Teatro Amazonas, símbolo da colonização, é um convite à reflexão sobre a arte indigena e a cultura brasileira” conta Priscila Amoni, curadora e idealizadora do festival ao lado Janaina Macruz e Juliana Flores.
Formada por duas cobras de 17 metros de comprimento e 1,5 metro de diâmetro cada, “Entidades” carrega a pesquisa e a poética do artista, em torno da “Cobra Grande”, a grande avó universal. Nas palavras de Jaider, “a Cobra Grande representa várias simbologias, desde a fertilidade e o caminho das águas, da fartura, porque ela vive debaixo da terra, nos grandes rios subterrâneos, mantendo o movimento da água sempre pulsando para que sejam mantidas as fontes. Ela também está distribuída no universo através da Via Láctea, também no intermediário, através dos rios voadores. Então, é uma ideia de sacralizar mesmo esse animal que é tão banalizado ainda na própria Amazônia, o quanto as pessoas não valorizam a sua sabedoria, a sua medicina, o seu poder e também distendendo essa cosmologia para a nossa realidade cotidiana e atual.”
Jaider Esbell foi artista e ativista indígena da etnia Makuxi (RR) com prêmios na literatura, nas artes visuais e no cinema. Trabalhos individuais e coletivos, tanto no Brasil quanto no exterior, marcam a trajetória do artista que criou a primeira galeria de arte exclusivamente para obras de arte indígena contemporânea em Boa Vista (RR).

CURA AMAZÔNIA
Realização: AGUA – Agência Urbana de Arte
Patrocínio: 3M
Apoio: Tintas Coral – Tudo de Cor, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Centro Cultural Casarão de Ideias (CCCI) e Centro de Atenção à Saúde e Segurança no Trabalho (CASST)
Promoção: Rede Amazônica
Produção local: Graffiti Queens
Incentivo: Lei Federal de Incentivo à Cultura