A Galeria BASE, cumprindo todos os protocolos determinados pelas autoridades, exibe “Samico e Suassuna – Lunário Perpétuo” com, aproximadamente 39 obras, entre xilogravuras e iluminogravuras, de Gilvan Samico e Ariano Suassuna, complementadas por trabalhos de Ana Maria Maiolino, Derlon e Goeldi. O texto é assinado por Douglas de Freitas. A exposição marca a abertura da nova sede da galeria, em imóvel com projeto assinado por Isay Weinfeld, agora tendo à frente Daniel Maranhão, Leonardo Servolo e Cássia Malusardi.
“Lunário Perfeito”, de Jerônimo Côrtes, é um livro em forma de almanaque ilustrado, escrito em 1954 e ilustrado com xilogravuras, que serviu de inspiração ao movimento do Cordel no nordeste brasileiro. A exposição busca contextualizar o movimento, que teve início no século XVI, em Portugal, até o Movimento Armorial de 1970, cujo objetivo foi a criação de uma arte erudita fundada na arte popular nordestina, contemplando todos os tipos de manifestações artísticas.
“A obra de Samico tem como cerne a técnica de xilogravura, utilizada por artistas da Literatura de Cordel, como por exemplo o grande cordelista J. Borges. Brasões, insígnias, e diversos símbolos são vistos na produção do artista, que de maneira própria, constrói uma narrativa traduzida em imagens de contos, lendas, anedotas e histórias. Essa forma de compor pode ser vista também no próprio conjunto de Iluminogravuras produzidas por Ariano Suassuna” define Douglas de Freitas.
Os trabalhos de Samico, que abrangem o período das décadas de 1950 a 2012, são xilogravuras com técnica única, registram personagens bíblicos, animais fantásticos, histórias e lendas do romanceiro popular. Seu reconhecimento como artista atravessa fronteiras e compõe acervos de diversos museus e instituições internacionais. Além do MoMA/NY, o artista também possui em seu currículo participação nas Bienais Internacionais de Veneza e São Paulo. “Três Mulheres e a Lua”, de 1959, exposta ao lado da “Nuvem”, xilogravura de Goeldi, exibe um dos registros resultantes do período onde Samico estudou com o artista, em 1958, e se pode verificar a visceral influência em sua obra.
Ariano Suassuna, Imortal da Academia Brasileira de Letras, exibe sua pouco conhecida faceta de artista visual, com as iluminogravuras executadas na década de 1980, que compõe os álbuns “Dez sonetos com mote alheio” e “Sonetos de Albano Cervonegro”. Seus trabalhos têm inspiração nas iluminuras da idade média, quando os manuscritos eram ilustrados e pintados à mão. O neologismo iluminura + gravura dá nome a esta produção. “As iluminogravuras aliam poesia à pintura, onde se destacam imagens humanas, animais, brasões e insígnias, ao lado de textos literários, alguns escritos com um alfabeto criado por Suassuna, em total consonância ao que previa o Movimento Armorial, por ele proposto em 1970”, acrescenta Maranhão.
Integram a mostra: a artista ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino, que também estudou com Goeldi e produziu uma série de xilogravuras como “Glu Glu” e “Ecce Homo”, com o Cordel como tema; a obra do grafiteiro pernambucanoDerlon, com trabalho fortemente impactado pelo Cordel e pelo Armorial, representa a contemporaneidade de tais linguagens; como também exemplares de livretos de cordel do artista J. Borges, capas de LP’s do Quinteto Armorial, algumas publicações literárias de Ariano Suassuna e vídeo com compilações que incluem algumas cenas de “Auto da Compadecida”, de Guel Arraes, parte de um show de Antonio Nobrega e um recorte de uma entrevista com Suassuna.