Tem sido uma semana movimentada para Amélie Huynh, a CEO da D’Orsay – marca francesa de perfumes fundada em 1830, que acaba de lançar uma série de novos perfumes e fragrâncias para interiores, em Paris onde a empresa nasceu.
Quase em simultâneo, a executiva dinâmica Amélie Huynh esteve também em Bordeaux, para abrir um novo restaurante no antigo castelo do pintor Henri de Toulouse Lautrec, parte do seu feudo de luxo em expansão. O Château Malromé, localizado na comuna Saint-André-du-Bois (departamento francês de Gironda), perto da cidade de Bordeaux, que foi a casa da mãe do pintor boêmio, onde este faleceu.
Mas primeiro, em Paris, Huynh revelou dois perfumes e cinco velas perfumadas por três criadores notáveis para a D’Orsay. As raízes da maison remontam há quase dois séculos quando o conde Alfred d’Orsay – aristocrata esteta e pintor talentoso, que reinou como dândi, supremo em matéria de gosto e elegância – criou o seu primeiro aroma sem gênero para ajudar a esconder um caso proibido. O objeto da sua paixão – a romancista Marguerite Gardiner, condessa de Blessington, mulher fatal anglo-irlandesa –, que o levou a ocupar a Gore House entre 1836 e 1849, tendo depois em 1851 certos andares sido convertidos em restaurante pelo chefe Alexis Soyer, com o objetivo de competir com a Grande Exposição no Hyde Park. Esta residência se tornou, com o nobre francês e a jornalista escritora irlandesa, o maior salão da Londres literária e artística da década de 1840.
Segundo reza a lenda, D’Orsay foi agraciado com o título de Conde de França, como membro de uma família de nobreza rural. Na Inglaterra, entretanto, encontrando-se sem dinheiro foi mantido por Lorde e Lady Blessington, criando fortes laços com o Conde de Blessington, e tornando-se amigo íntimo. No ano seguinte, o casal visitou Valence onde D’Orsay morava e o convidou para acompanhar a família em uma viagem pela Itália.
Lorde Blessington morreu em 1829, integrando d’Orsay no testamento como principal herdeiro e executor. Mas, para ter direito à fortuna de Blessington, Alfred d’Orsay foi obrigado a casar com uma das filhas, Lady Harriet, ainda com 15 anos. No entanto, a viúva Lady Blessington impôs a condição de o casamento só ser consumado aos 21 anos da filha. Harriet fugiu aos 19, por este querer consumar o casamento e infringir o acordo, exigindo a separação legal em 1838, e afastando d’Orsay do patrimônio da família em troca de lhe pagar parte das dívidas. Em 1849, d’Orsay foi à falência e, não podendo mais sustentar a mansão, foi à Paris. Lady Blessington vendeu quase todos os pertences e o seguiu.
Membro do Garde du Corps de Luís XVIII; amigo próximo de Lord Byron e amigo de Benjamin Disraeli, que lhe pediu para ser o seu segundo num duelo, Alfred d’Orsay era muito bem relacionado. O imperador Napoleão III foi ao seu funeral, e o nomeou diretor de Belas Artes do Segundo Império poucos dias antes da sua morte, em 1852. Dickens também deu a honra ao conde de ser padrinho do sexto filho, em 1852.
Voltando a nos centrar no recente lançamento da D’Orsay, um novo aroma intitulado A Coeur Perdu (Um Coração Perdido), mistura elementos como bergamota, néroli, ambroxan e musgo, onde a jovem perfumista Fanny Bal faz referência aos corpos entrelaçados de Marguerite e Alfred d’Orsay. Enquanto o hiper experiente nariz de Bertrand Duchaufour, aos 35 anos, desenvolveu Nous Sommes Amants (Nós Somos Amantes), misturando bambu, pimenta preta, madeira flutuante, âmbar-cinzento e almíscar.
A marca D’Orsay foi relançada em 2019 com uma primeira boutique no número 44 da rua du Bac, no distrito de Saint Germain em Paris; antes de uma segunda lhe ser acrescentada no número 2 da rua de Francs-Bourgeois do Sena no Marais. Desde então, a D’Orsay abriu também na meca das compras, Aoyama em Tóquio, cada boutique feita num estilo clássico internacional, ousando madeiras lustrosas e acessórios de latão precisos. Tudo captando o sentido da mística imagem D’Orsay com armários feitos de múltiplas gavetas em que os cheiros secretos são cuidadosamente fechados.
“Tudo o que fazemos se refere à sensibilidade romântica do Conde D’Orsay, desde o caso ilícito ao sentido do desejo carnal”, explicou Amélie Huynh, CEO e fundadora da Parfums D’Orsay.
A capacidade de redescobrir na França marcas antigas de classe continua com a D’Orsay, cujas fragrâncias são feitas entre Paris e Grasse, a capital do perfume na Provence. D’Orsay também oferece Totems decorativos olfativos, elegantes colunas de latão vendidas para ajudar a difundir os seus perfumes de interiores. Enquanto as velas perfumadas continuam a evocar o sentido do romance, com nomes como Sous les Draps (Debaixo dos Lençóis) ou A L’Abri des Regards (Ao Abrigo dos Olhares).
“Todas as nossas criações são concebidas e feitas na França, dos vidros até às tampas de spray“, disse Huynh.
Mãe dinâmica de três filhos, a franco-chinesa Amélie Huynh começou a trabalhar na Maison Martin Margiela depois de se formar em Moda. Posteriormente, estudou Marketing e Comunicação, e trabalhou como estilista freelancerpara a Elie Saab, Lanvin, Carven e Loewe e como consultora para a Altuzarra, antes de lançar a sua marca de cosmética holística Holidermie, em 2019.
Paralelamente, Huynh trabalhou durante oito anos com a Chaumet, antes de lançar sua própria marca de joias deco-rocker Statement Paris, uma mistura de formas polidas e diamantes finos cortados a lazer, que podem ser vistos no retrato em que Huynh se apresenta com um conjunto totalmente negro com blazer Alexandre Vauthier.
Em Bordeaux, colaborou com a sua famosa irmã estilista Melanie Huynh e com seu pai, o empresário Kim Huynh, na aquisição e reforma do Chateau Malromé, a antiga casa da família Toulouse-Lautrec que se tornou hoje a sede da referida família franco-asiática.
Pai e filhas já transformaram a propriedade de 43 hectares num retiro de ioga de luxo e estão reorientando os vinhedos para uma vinícola biodinâmica. Ideal para a ocasião da mais recente ideia de Amélie Huynh: trazer o chef Sébastien Piniello (conhecido por utilizar plantas e frutos cultivados através da técnica de permacultura) para dirigir o restaurante do castelo denominado Les Abeilles (As Abelhas). Um nome apropriado para Huynh, que deve ter sido a mulher mais ocupada do luxo francês nesta semana.