Moda

Prada Bad Romance Por Xico Gonçalves

25 fev 2019 • por Nina Kauffmann • 0 Comentários

A Prada sempre choca, ofusca, educa e esteticamente acorda o sono da moda.
A marca definitivamente não está interessada nos códigos de vestimenta tradicionais.
Miuccia Prada, diretora criativa da empresa, trata as regras estabelecidas de elegância como se fossem papel: amassa, faz uma bolinha e mira na lixeira mais próxima.
“Eu sou completamente contra ao clichê ou o que todo mundo faz”.
A imaginação de Miuccia desta vez viajou por filmes de terror trash que acabaram por inspirar o processo criativo.
Como pano de fundo os personagens de Mary Godwin aka Mary Shelley, a mulher que escreveu a história original de Frankenstein, mas que foi obrigada a publicar anonimamente (as pessoas achavam que eram seu marido), em uma época de grande restrição feminina.
Essa injustiça e desrespeito a uma mulher foram o estopim para acender uma faísca na imaginação de Miuccia.
Por conta disto a Prada mostrou um “bad” romance na Fashion Week de Milão nesta quinta-feira, com uma coleção de inverno que retratou os dois lados de uma história de amor.
A estilista se inspirou no medo e no conto de fadas presente no romance, contrastando os dois em seus modelos.
A coleção ‘Anatomia do Romance’ “é uma reação e uma reflexão sobre a humanidade, nossas forças e fragilidades”, disse a nota do desfile.
O romance é uma condição de dupla face, por um lado, de arrebatamento e palpitações cardíacas felizes e, por outro, bem o oposto.
Tal dicotomia joga diretamente na esfera criativa de oposição e contradição do conceito Prada, gerando imagens inéditas.
Este ponto-contraponto parece uma necessidade de narrar o bem e o mal juntos, o que corresponde aos nossos tempos.
No lançamento da coleção masculina em janeiro, Miuccia Prada já havia tomado como ponto de partida a história de Frankenstein, o anti-herói monstruoso, rejeitado e apaixonado de Mary Shelley.
Nesta coleção Frankenstein volta à cena já em crush, afinal um romance pode ser um antídoto à dureza dos nossos tempos.
O amor é um campo de batalha
Na passarela marcada por uma rede de lâmpadas, iluminando a escuridão da sala como um campo de luzes, surgiram as primeiras manequins com um penteado em tranças lembrando Wandinha Addams e usando roupas pretas estruturadas como armaduras, vestidos tomara-que-caia ou casacos acinturados- para depois revelarem estampas florais suaves ou grandes rosas amarelas e vermelhas 3D nos vestidos ou presas com seus caules verdes para fora da cintura, como laços.
Algumas das flores eram pretas, em roupas também todas pretas.
Tempo para toques românticos como laços e raios estampados em vestidos, em referência à descarga elétrica que acontece quando duas pessoas se encontram pela primeira vez.
Porém, a proposta para a estação fria não é apenas uma coisa, ela é meio clubber, meio gótica, romântica e até grunge.
Peças consideradas tradicionalmente bonitas aparecem de uma forma distorcida, como se soubessem que não é fácil se relacionar nesses tempos tão confusos, onde ninguém mais quer esperar no alto de uma torre.
E na toada de Pat Benatar que cantava que “ o amor é um campo de batalha”, a Prada propõe uma estética militar pronta para o combate com jaquetas e parkas de nylon ou blazers com inspiração aeronáutica, muitas misturado com rendas diáfanas.
Muitos looks utilitários parecem preparados para fugir a qualquer momento, com botas tratoradas, ternos, jaquetas e roupas de inspiração em uniformes.
Tudo com corte impecável, decorado por cintos sobrepostos e bolsos cuja função foi potencializado: aqui eles estão até nas botas.
A expressão “faca na bota” foi levada a sério pela Prada ao colocar pequenos bolsos utilitários nestes calçados.
Os casacos e paletós trazem uma nova configuração para as mangas, que parecem presas ao corpo com uma abertura frontal.
À medida que a música do desfile da temporada outono/inverno 2019 oscila entre um rock pesado e ritmos instrumentais mais suaves, golas pontudas sob transparências ou suéteres com decotes em V profundos enchem a passarela.
Os acessórios aparecem pesadões e em cores inesperadas, como rosa choque e sapatos de saltos rubi com gliter.
O destaque absoluto deste desfile são as botas plataformas com salto tratorado que fizeram um sucesso absurdo nas raves do final dos anos 1990 e começo da década de 2000.
Certamente um amor à primeira vista.
Quanto aos verdadeiros amantes, Prada destacou um único casal, Frankenstein e sua noiva.
Para os Prada-philes o desfile trouxe todas as referências da marca com bolsas e sapatos de tirar o folego.
Destaque para as bolsas peludas ou emolduradas.
Grande parte do sucesso dos desfiles da Prada se deve ao stylist belga que assina todos os trabalhos da casa.
A edição de Olivier Rizzo é repleta de detalhes.
Mesmo um simples alfinete colocado em um lugar estratégico, não vai passar despercebido.

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