Moda

MECANISMOS DA MODA Por Xico Gonçalves

02 abr 2019 • por Nina Kauffmann • 0 Comentários

Você já parou para pensar como o segmento da moda é organizado?
A cada nova estação uma maré de tendências invadem as vitrines com produtos que conversam entre si na cor e estilo, mesmo sendo fabricados em diferentes países.
E mesmo trabalhando com os mesmos produtos, a moda sempre se renova fazendo os consumidores a seguirem como em uma epidemia induzida.
Isto tudo é fruto de uma metodologia criada pelo segmento.
Para que tudo funcione azeitado, da elaboração de um tom ou modelagem até a chegada da roupa pronta na vitrine, podem se passar muitos anos e em muitas mãos.
O percurso da moda desde o momento da concepção como tendência até chegar às vitrines é longo.
Não existe mais a criação de atelier do passado, onde um só um costureiro poderia definir a silhueta da estação.
No tempo de Christian Dior, o que ele criava era lei, do comprimento até a silhueta. (foto)
A moda era uma arte vestível.
Entre 1947 e 1957, Christian Dior assinou 22 coleções para sua maison e no breve espaço de uma década, foi capaz de inscrever seu nome na moda francesa e na história mundial da vestimenta.
Até a bainha das saias era definido por Dior.
Mas felizmente estes mestres abriram espaço para desenhistas mais envolvidos com as necessidades femininas.
Hoje um estilista chega a ter duzentos colaboradores, antenados na moda das ruas e novos comportamentos.
A moda não nasce ao acaso.
É fruto de uma pesquisa incessante em cima do que pode virar consumo.
O objetivo é o lucro.
Afinal a indústria da moda em nada se difere de outras, como a fábrica de panelas ou geladeiras.
Sem gestão e faturamento, não funciona.
OS CAMINHOS DA MODA
TENDÊNCIAS
O mecanismo da moda é complicado e requer muitos anos para chegar até a loja. Três anos para ser mais exato.
O processo se inicia filtrando correntes que vêm das ruas, dos sentimentos humanos, acontecimentos sociais, anseios e desejos, transformando este caldeirão cultural em tendências que unem em estilo e cores nos lançamentos da temporada.
Este guarda-chuva das tendências abriga todas as formas de expressões artísticas- da arquitetura a moda.
POLÍTICA
Elaboradas as tendências, indústrias poderosas saem em pesquisa de matéria-prima. Interesses políticos, econômicos e sociais muitas vezes definem mais a moda que a criatividade de um estilista.
CORES
A falta ou abundância de alguns pigmentos determinam as cores, mas é importante mudar, não importa o tom.
A cartela de cores é formatada pela indústria Pantone que anualmente promove pesquisas para criar uma coleção de tons que se aproximam da expectativa dos consumidores baseada em pesquisas e fatos históricos.
A Pantone é uma empresa situada New Jersey (USA), idealizadora de um sistema de cores que é amplamente utilizado pela indústria gráfica.
Esse Guia Pantone (como é chamado o catálogo) muda anualmente e facilitou a vida de muitos profissionais de diversos segmentos. Quando alguém quer uma tonalidade exata para algum trabalho ou logomarca, escolhe o pantone correto e pede para desenvolver sem erro.
Desde os anos 1990 a Pantone seleciona “a cor do ano” baseada numa intensa pesquisa que inclui viagens, comidas, artistas em destaque, lugares, até mesmo filmes.
BUREAUX DE STYLE
Concluídas as pesquisas e localizada a matéria-prima, entra no circuito o chamado CCIMM, organismo que centraliza essas decisões e se comporta como um centro internacional de negócios voltado ao mercado de moda.
Os “Bureaux de style” (escritórios onde são elaboradas e organizadas as cores e volumes) começam a preparar os tons e as texturas de fios em diversos materiais para serem apresentados em feiras especializadas.
TECIDOS
Conhecidas as tendências para os fios, são desenvolvidos tecidos e estampas, tudo com base na tendência da temporada. Pode ser retrô, futurista ou natural.
ESTILISTAS
Seis meses são gastos pelos estilistas para o beneficiamento dos tecidos, transformando ideias em estilo de vestir, apresentando com grande alarido a milhares de pessoas, entre elas compradores e jornalistas, que acabam determinando a glória ou o ocaso de uma estrela da moda.
DESFILES
Nas passarelas, muitas vezes desfilam roupas que precisam de bula para decifrar ou peças tão absurdas que fazem com que o mundo pergunte em coro: quem usará tal loucura? O motivo deste exagero é porque roupas banais não rendem manchete ou primeira página.
De olho nestes preciosos espaços editoriais espontâneos- que podem revelar um nome de um dia para o outro, estilistas se permitem desvarios em troca de notícias.
A roupa pode não vender, mas populariza o criador e possibilita faturar com perfumes, cosméticos e outros babados.
PEDIDOS
Ponta do processo de toda a manobra.
Os novos estilistas internacionais, que aparecem do nada, são patrocinados por grandes indústrias têxteis japonesas, alemãs e italianas, e tem três anos para rechear com suas criações os blocos de pedidos.
Se não pintar negócios, o estilista -mesmo genial, fica desacreditado e pode ser substituído. Como um técnico de futebol.
VITRINE
Finalmente a roupa chega à vitrine, desafiadora, inovadora e apaixonante.
Já parou para pensar quanta mão-de-obra é investida neste processo?
Talvez isto explique por que países do primeiro mundo mesmo com tecnologia de ponta, ainda acreditem no poder desta indústria artesanal, não só como geradora de impostos, mas também como uma atividade que pode dar trabalho a milhares de pessoas.
No Brasil, a cadeia de moda, mesmo sem receber a importância que merece, é o segundo maior gerador de empregos do país.
DIVULGAÇÃO
A moda não acontece se não houver divulgação.
Jornais, revistas, blogs e programas de moda são fundamentais para que novas ideias sejam disseminadas.
Por isto a importância de certos jornalistas que acabam definindo junto a seus leitores o que pode virar consumo.
NOVAS MÍDIAS
Até bem pouco tempo atrás as blogueiras de moda eram ignoradas pela indústria da moda.
Este novo movimento consegue criar vínculos com as leitoras de uma maneira muito pessoal e as blogueiras já se transformaram em poderosas formadoras de opinião.

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