A Pinakotheke Cultural, em sua sede do Rio de Janeiro, fará, em colaboração com a Associação de Amigos de Frans Krajcberg, a exposição “Frans Krajcberg (1921-2017) – Natureza em preto e branco”, que abre para o público no próximo dia 25 de julho de 2022. A exposição tem curadoria de Galciane Neves e Max Perlingeiro, e celebra o centenário de nascimento de Frans Krajcberg, “um precursor na defesa do meio ambiente”, como destaca Marcia Barrozo do Amaral, presidente da AmaFrans. “Ele se revoltou com a destruição da natureza que conheceu em suas viagens pelo país, e sua indignação não esmoreceu até o fim de sua vida, aos 96 anos”, conta.
“Natureza em preto e branco” apresenta pinturas, esculturas, gravuras e fotografias em preto e branco de Frans Krajcberg, em diálogo com fotografias e filmes de Luiz Garrido (1945, Rio de Janeiro), seu amigo e incentivador ao longo de sua vida, e que durante décadas o fotografou em diversas ocasiões. Estará na mostra o ensaio e o documentário produzidos por Garrido em 1996, em Nova Viçosa, na Bahia, com registros de intimidade entre os amigos, fruto de um olhar que se achegava do “homem-árvore”, embrenhado na urgência da vida.
A exposição será acompanhada do livro “… ao acordar, a natureza estava preta e branca”, com textos de Galciane Neves, Jaider Esbell, Thiago de Mello, Max Pelingeiro, Bené Fonteles, uma entrevista da curadora com o artista Advânio Lessa (1982, Lavras Novas, Minas), amigo de Krajcberg, e ainda o Manifesto do Rio Negro do Naturalismo Integral, de Pierre Restany (1930-2003), lançado em 1978, na presença de Sepp Baendereck (1920-1988) e Frans Krajcberg.
A ESTÉTICA NÃO ME BASTA
Max Perlingeiro afirma que “distribuída em telas, esculturas, objetos, relevos e fotografias, a produção de Krajcberg encerra um impressionante libelo pela preservação do patrimônio ambiental, bem de uso comum do povo e consagrado à subsistência e proveito da humanidade”.
Marcia Barroso do Amaral conta que ouviu incontáveis vezes Krajcberg dizer: “A estética não me basta. É necessário que a obra possa ecoar e reverberar o grito que trago no peito”. Judeu de origem polonesa, ele chegou ao Brasil em circunstâncias trágicas, aos 27 anos, buscando superar os horrores da Segunda Grande Guerra, conflito no qual esteve pessoalmente envolvido e que lhe roubou a família, dizimada nos campos de concentração. “Aqui, neste país tropical, de natureza exuberante, Krajcberg encontrou mais do que inspiração para sua obra”, diz Marcia. “Além de excepcional artista – premiado em importantes Bienais, como Veneza e São Paulo, e com obras nos acervos de importantes museus, como o Beaubourg, em Paris – Krajcberg foi um combatente, um ativista ambiental, quando ainda pouquíssimos se sensibilizavam pelo tema e por suas drásticas consequências. Impossível examinar suas esculturas, pinturas e relevos sem a conexão profunda e indissociável com a causa que o artista abraçou, integral e decididamente ao longo de sua vida. Nesse caso, não há forma dissociada do conteúdo, do contexto em que fora recolhido o suporte natural”, afirma.
Para ela, a obra de Krajcberg “é o alerta de um pioneiro na defesa e preservação de nossos biomas naturais e dos remanescentes povos originários, e uma exortação dolorosamente atual, ante a colapsada fiscalização e controle ambiental sob responsabilidade do Estado brasileiro”.
LUIZ GARRIDO POR FRANS KRAJCBERG
Frans Krajcberg disse sobre a obra de seu amigo Luiz Garrido:
“A técnica não é tudo, e sim a participação do artista na obra. Na fotografia me impressiona essa relação do fotógrafo com a máquina, a maneira como ele cria, a percepção da luz, o enquadramento da imagem, o momento exato do clique. Conheci o Garrido, em Paris, em 1968, quando ele estudava fotografia, e nossa amizade desenvolveu-se a partir dos muitos encontros nos quais sempre discutíamos bastante sobre o assunto. Depois de alguns anos, descobri, já no Rio de Janeiro, o fotógrafo Garrido e fiquei impressionado com o seu trabalho. Um artista captando, com a máquina fotográfica, uma imagem muito própria, criando sua obra. Isso me impressiona sempre, o talento e o desejo de criar uma obra própria, o trabalho de pesquisa, o domínio da técnica como instrumento e não como fim. A máquina não é tudo, o artista sim. Os retratos, foco de seu atual interesse e que fazem parte dessa exposição, são a síntese dessa união entre técnica, luz, imagem, percepção de um momento fugaz de um olhar, um gesto, uma postura que dizem algo além da imagem retratada. Em resumo, é a participação, por inteiro, de artista, em sua obra, são os retratos do ponto de vista Garrido, é a fotografia como forma de expressão, arte, uma obra que foi cuidadosamente elaborada e que transcende a imagem retratada”.