Ostentar logomarcas de moda agora é “cool”.
Basta observar as passarelas da última temporada internacional de moda para notar que a antiga estratégia de status está mais em moda do que nunca.
Chanel, Louis Vuitton, Dior, Gucci, Fendi, Balenciaga e Moschino estão entre as labels que têm faturado alto com a logomania.
O real significado de “logomania” no dicionário é “amor excessivo às letras” ou “estado de excitação em que a pessoa fala demais”.
Na moda, como o próprio nome já diz, tem a ver com logotipos.
A ideia é usar roupas e acessórios com símbolos de marcas famosas – e quanto mais evidente, melhor.
Seja para ostentar ou fazer marketing pessoal, a febre de vestir logomarcas nos looks do dia a dia está fazendo com que os modernos usem camisetas, bolsas, cintos e até looks totais cheios de logos de suas grifes favoritas.
As logomarcas nas peças da moda atual repetem uma ação forte do final do século XX que estampava assinaturas poderosas em muitas peças do vestuário.
De volta ao street style
No tempo da minha mãe, sair exibindo a marca das roupas era considerado vulgar.
É fácil entender a volta das roupas descaradamente logotipadas.
Vivemos em uma “sociedade anônima”.
Quem mora em grandes metrópoles sabe a dificuldade de conhecer seu vizinho de porta.
No século passado um visual elegante já bastava para expressar o estilo de vida.
Atualmente, com a moda se exibindo tão “informal”, fica difícil descobrir quem é quem.
As logomarcas estampadas sinalizam. Servem como um texto para quem as veste.
Pessoal e intransferível
Carregar uma peça grifada com a logo aparente significa pertencer a um grupo. Um pertencimento, o “fazer parte da turma”.
Faz “anônimos” se sentirem inseridos socialmente e identificados e representados através da estética.
Com essa escolha, a imagem transmitida é a de uma pessoa bem-sucedida.
Mas o fato é que estampas com logos famosas são muito mais que mensagens de luxo.
Em uma época em que os contatos muitas vezes acontecem pela aparência os logos funcionam tanto como autoafirmação pessoal (e profissional), quando como branding para as empresas.
Grifes como a Chanel e Louis Vuitton, por exemplo, há décadas abusam da logomania não só nas roupas, mas especialmente nos acessórios que elevam o status de qualquer item, simplesmente por serem caríssimos e deixando isso bem claro.
A própria Maison Chanel foi muito além do duplo “C” que consagrou a marca na última coleção de Verão 2019, investindo em colares e brincos com letras que escrevem o nome “Chanel”, assim como camisas e chapéus bordados com a logo da grife.
Outras marcas influentes como a Gucci (a grife do momento entre os descolados) e a Dior apostaram em monogramas para estampar peças de roupas (até as intimas) e acessórios para reforçar os nomes.
A Dior inclusive relançou a bolsa Sela, com a mesma “sopa” de letrinhas.
Até grifes novas, como a Off-White, do designer Virgil Abloh e a Supreme estão entre os fãs da logomania, viralizando suas marcas e ficando cada vez mais conhecidas.
A Supreme mesmo, copiou tanto o logo da Louis Vuitton que depois de muitos processos de plágio, acabou lançando uma coleção em colab com a famosa marca.
Sintonia como universo digital
De máscaras de dormir a tênis e anéis, a logomania está em todo tipo de item.
Bolsas, braceletes e peças de roupa carregam símbolos das grifes famosas.
A tendência logomania tem ampliando tanto as vendas físicas e digitais que algumas casas de moda estão redesenhando suas logomarcas para facilitar a leitura on-line e a aplicação do desenho em novas plataformas.
Na Prada a logo clássica vem dividindo espaço com propostas mais gráficas, coloridas e divertidas.
Na Burberry, Riccardo Tisci, à frente da marca mudou o brasão de cavalinho por uma logo gráfica, com as iniciais do fundador Thomas Burberry.
E se alguma estrela ou Blogueira top posta uma foto com a marca no corpo, as vendas disparam na velocidade da luz.
Quando Neymar desembarcou na Rússia com uma mala Louis Vuitton que custa R$ 17.900, a peça esgotou em todas as lojas do planeta como pão quente.
O craque chegou com uma mala de mão da marca alemã Rimowa, feita em parceria com a grife de streetwear norte-americana Supreme.
A origem da logomania
· Anos 1970 / 1980 do jeans aos excessos
Desafiando as tradições da alta-costura, as grifes de jeanswear se popularizaram exibindo suas etiquetas do lado de fora das calças.
· Com o tempo, a logo foi subindo para as camisetas, depois para jaquetas e assim por diante
· A brincadeira acabou chegando às grifes de luxo: Chanel (com o duplo C) e Gianni Versace (com sua medusa) exploraram a logomania dos pés à cabeça durante a década de 1980.
Anos 1980 / 1990 à moda das ruas
· Com a chegada da moda Grunge, que abominava o estilo burguês, as logomarcas sumiram.
· Foram os grupos de hip-hop que definiram o gênero na virada dos anos 1980 para os 1990, como Run-DMC e Salt-N-Pepa, celebrando a moda em suas letras, abusando da estética bling, com silhuetas oversized, correntes bold e looks repletos de logomarcas – Polo e Tommy Hilfiger estavam entre as mais populares.
· A obsessão pela label da Ralph Lauren era tamanha que o Lo-Life, crew famoso na época por seu estilo, foi batizado em homenagem à grife (“Lo” é o apelido da Polo).
Anos 2000 no clima pop
· O estilista John Galliano, na época à frente da Dior, resgatou a Oblique, imprimindo a padronagem em looks completos.
· Marc Jacobs deu nova interpretação ao monograma da Louis Vuitton ao investir em parcerias artsy com o americano Stephen Sprouse (2001) e com o japonês Takashi Murakami (2003).
· Dapper Dan, o alfaiate que entre 1982 e 1992 fazia no Harlem, em Nova York, peças originais e extravagantes para a turma do hip-hop (muitas delas usando logomarcas não autorizadas), inspirou recentemente as criações do resort 2018 da Gucci e nesta estação 2019, assina uma coleção-cápsula para a marca, à venda em lojas selecionadas.