São poucos os criadores que se podem orgulhar de uma carreira tão notável como Giorgio Armani. A última apresentação do designer italiano, transmitida online no sábado (27), foi precedida pela épica história do seu trajeto único no mundo da moda. Ninguém pode acusa-lo de falsa modéstia.
Embora Giorgio Armani tenha optado por não organizar apresentação física durante a Semana da Moda de Milão, o criador orquestrou uma versão digital do desfile da sua mais recente coleção de assinatura. Esta foi introduzida por uma mini biografia em vídeo de 15 minutos, centrada na sua marca e seu processo criativo e intitulada Timeless Thoughts.
O ator italiano Pierfrancesco Favino emprestou sua voz para narrar alguns dos maiores sucessos do designer, desde o seu início como alfaiate até à sua filosofia criativa.
“Eu queria mudar a minha visão da mulher, sem trai-la”, partilha Giorgio Armani, que lembra uma estrela de cinema de 40 anos atrás.
O vídeo apresenta dezenas de capas de revistas com o criador em destaque, e mesmo um anúncio do HSBC, sem esquecer as inúmeras fotografias de celebridades com as suas criações – todas intercaladas com entrevistas com Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Julia Roberts, Cate Blanchett e o presidente da câmara de Milão, todos elogiando o criador.
“Ele iniciou a sua revolução com o blazer, desconstruído e transformado em uma espécie de segunda pele… sem nunca dar a impressão de estar disfarçado”, analisa com precisão Pierfrancesco Favino.
“Os tecidos são sempre suaves, as cores sempre neutras… Desde 1975, apoiado pelo seu único parceiro, Sergio Galeotti, resolveu vestir gente de verdade”, entoa a voz aveludada do ator.
Até à noite “One Night Only”, e o seu apoio ao movimento de Bono (RED), as múltiplas inaugurações de hotéis Armani e o impacto global de American Gigolo, que permitiu a Giorgio Armani vestir a nata de Hollywood depois de criar todos os ternos de Richard Gere no filme.
Em contraste, a coleção apresentada após o vídeo parecia um pouco tímida. Embora a apresentação estivesse perfeitamente correta, especialmente para o prêt-à-porter masculino, no fim de contas não foi exatamente uma temporada vintage.
Diante de uma parede cinzenta, Giorgio Armani revelou looks puros e fluidos para mulheres – casacos desconstruídos e leves como plumas, boleros sem lapela, lânguidas calças harém com estampas abstratas e alguns maravilhosos vestidos florais de influência asiática. Sem nunca perder a majestosa fluidez característica da marca italiana.
No lado do prêt-à-porter masculino, o homem sedutor, mas travesso, nos lembra por que tantos homens apreciam os tailleurs de Giorgio Armani: pela sua capacidade de transforma-los em bandidos sedutores.
Casacos trespassados elegantes, túnicas dandy e coletes em seda cruzados, todos em magníficos tecidos, leves mas estruturados. Os modelos desfilaram sobre uma passarela metálica diante de imagens gigantescas de desertos e montanhas, novamente declinados em tons neutros.
A coleção assentava tão bem nos modelos que se poderia pensar que se tratavam de roupas de “alta-costura”, feitas sob medida, ajustadas a cada tipo de corpo. Um lembrete oportuno de que, embora a estética de Giorgio Armani ainda pareça muito presa às décadas de 80 e 90, o seu senso de alfaiataria continua único. Um grande sucesso para o criador de 86 anos.
Entusiasmados com a biografia e o vídeo, alguns admiradores da marca até começaram a publicar nas redes sociais o genérico de abertura de American Gigolo, onde é possível ver Richard Gere dirigindo pela Pacific Coast Highway seu Mercedes 350, depois de uma programa com uma cliente rica.
Obviamente, Giorgio Armani está bem vivo e quer que a gente saiba disso.