Em janeiro, a decisão da Bottega Veneta de abandonar as redes sociais foi amplamente comentada. Agora, a marca italiana de luxo volta a ser assunto novamente ao anunciar o lançamento de sua revista digital trimestral.
Intitulada Issue 01, esta primeira edição cobre temas como belas artes, fotografia e moda, e traz também vídeos ao vivo, incluindo um clipe da cantora Missy Eliott, baseado em seu sucesso de 1999 “Hot Boyz”, dirigido por Tyrone Lebon
Entre os outros participantes está a equipe de parkour britânico, Storror, saltando de prédios e em torno das lareiras, vestidos com as coleções da Bottega Veneta. Muitos objetos da marca estão disponíveis em materiais inesperados: saltos altos, mules e escarpins acolchoados revestidos de mármore, bolsas em acrílico azul-klein ou verde-limão, botas e pochetes amarelas ou violetas que parecem esculpidas em gelatina, e escarpins sling-back confeccionados em alcaçuz, folhas ou glacê.
Todo esse universo reflete o posicionamento único de Daniel Lee, diretor criativo da Bottega Veneta. Venerado pelo cenário da moda, o estilista foi, provavelmente, o responsável pelo excelente desempenho da marca no ano passado, indo na contramão de seus pares.
“As redes sociais representam a homogeneização da cultura. Todo mundo vê os mesmos feeds de conteúdo. Eu penso muito sobre o que faço, e as redes sociais simplificam demais os processos de pensamento”, disse Daniel Lee em uma (rara) entrevista ao The Guardian. O designer é notoriamente discreto e reservado. Mesmo assim, o Instagram já está fervilhando de imagens da primeira edição da Issue 01.
A revista digital contém um belo editorial de moda fotografado no cenário clássico de Milão de meados do século ou nos Giardini Publici da capital da moda italiana, com a famosa modelo Maria Carla Boscono vestindo um deslumbrante sobretudo de camurça, além de outras modelos vestidas de jaquetas aviador ou lindos vestidos coral esmaltados com enfeites.
Todas as imagens destacam a grande sensibilidade arquitetônica de Daniel Lee, que se reflete nas imagens de um desfile recente da Bottega Veneta em Sadler’s Wells, Londres, narrado por Neneh Cherry. Também é possível admirar muitas esculturas de balões, parecendo evocar o design por trás do estilo intrincado dos colares e pulseiras de prata e cristal da marca.
Uma série de imagens feitas por drones mostram centenas de carrinhos. Cartazes promovem festas All Night Long organizadas pela Bottega Veneta, com sapatos de salto alto em malha. A campanha da marca para a primavera-verão 2021, também fotografada por Tyrone Lebon, apresenta um elenco inclusivo de belos sedutores e garotas auto-confiantes vestidos com macacões, terninhos verdes ou jaquetas, deitados em sofás e chaise longues do mesmo material ou cor das roupas.
Imagens com influência de discoteca e tapeçarias de parede mostram looks de diferentes coleções da Bottega Veneta. Uma seção é dedicada à designer Barbara Hulanicki, a famosa fundadora da Biba, fotografada em seu estúdio e retratada através esboços de belezas obscuras, ou modelando com um casaco de mangas gigantes.
Após uma década brilhante de crescimento até 2015, a Bottega Veneta, que faz parte do grupo de luxo francês Kering, perdeu o rumo há cerca de cinco anos. Felizmente, a chegada de Daniel Lee trouxe um renascimento notável para a grife. Não surpreende que ele tenha ganhado quatro prêmios do British Fashion Council em 2019.
Na verdade, tudo o que Lee toca parece virar ouro. Ele pode até ter removido a Bottega Veneta das redes sociais, mas a cobertura da marca no Instagram ainda é intensa. Um seguidor chamado #newbottegaveneta possui 512.000 seguidores e já tem várias imagens da Issue 01.
“Há um ambiente de assédio nas redes sociais que não gosto nem um pouco. Em vez disso, eu queria fazer algo alegre. Não somos apenas uma marca, somos uma equipe de pessoas que trabalham juntas e não quero trabalhar em um ambiente pesado”, disse Daniel Lee para Jess Cartner-Morley do The Guardian.
Em todo caso, Issue 01 representa um catálogo formidável das ideias do criador, mesclado com fontes de inspiração e múltiplas vias que parecem refletir sua maneira de pensar e seu modo de criar. Talvez o Instagram não seja essencial, afinal.