O Instituto Solar dos Abacaxis, dirigido por Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça, e integrado também por Catarina Duncan, curadora, e Ana Clara Simões Lopes, curadora-assistente, entre outros nomes, cria o Fundo Colaborativo, que será gerido por uma coligação formada por mais cinco instituições parceiras: Casa do Povo e Pivô, em São Paulo; Chão SLZ (São Luís); Galeria Maumau (Recife); e JA.CA (Belo Horizonte). A primeira ação é o programa Brotar, em que seis artistas de diversas regiões do país receberão, cada um, fomento de R$800. Por sua vez, cada um desses artistas indicará um outro para também receber este fomento, formando assim uma corrente de cuidado que se estenderá a mais seis ciclos, totalizando 36 beneficiados. “Dessa forma, os próprios artistas são responsáveis pelo desenvolvimento dessa rede de cuidado, troca, aprendizado e solidariedade”, explica Catarina Duncan.
Esta iniciativa é desdobramento do Fundo Colaborativo Emergencial para Artistas e Criadorxs, ou FunColab, criado pelo Solar dos Abacaxis em abril de 2020, como uma frente de ação diante da pandemia, e que “nasceu como uma rede de cuidado e solidariedade com o objetivo de apoiar artistas emergentes em situações de vulnerabilidade, tendo realizado até agora quatro grandes ações de distribuição de recursos, beneficiando 31 artistas, três coletivos, e oito instituições, com um total de R$ 280 mil arrecadados”, contam Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça.
DO COSME VELHO AO CENTRO DO RIO
Inaugurado em dezembro de 2015 em uma casa centenária no Cosme Velho, bairro da Zona Sul do Rio, o Solar dos Abacaxis ganhou notoriedade no circuito brasileiro e no internacional da arte a partir das dezenas de eventos realizados até fevereiro de 2020, frequentados por artistas, curadores, e líderes de instituições brasileiras e estrangeiras, que passaram por lá para ver as inventivas curadorias e novas formas de se estar junto por meio da arte.
Agora o Instituto Solar dos Abacaxis busca espaços no Centro da Cidade e na região portuária para ter sua nova sede, que não mais é no imóvel no Cosme Velho. A falta de entendimento quanto ao objetivo comum do uso daquela propriedade, entre o Instituto e os demais membros do grupo que se reuniu para a aquisição conjunta do imóvel no final de 2019,motivou a decisão.
“O Instituto Solar dos Abacaxis é uma instituição cultural vibrante, democrática, engajada e colaborativa, e vemos uma grande oportunidade de sinergia com a ideia de retomada de atenção da Prefeitura à zona central do Rio”, destacam Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça. “Sempre colaboramos muito com artistas, criadores, coletivos e instituições do Centro da cidade, que junto com a Região Portuária são territórios de imensa produção cultural, com histórias e questões que se relacionam muito com nossas práticas. Nos interessam também a presença de importantes espaços públicos de convivência, e a articulação com sistemas modais de transporte, que aumentariam enormemente o acesso às nossas atividades. Estamos buscando locais e parceiros para isso”, complementam.
“Somos muito gratos pelo nosso encontro com a casa no Cosme Velho, em 2015. A experiência de imaginar as nossas ações a partir dela permitiu construir o que seria antes impensável. Sonhando junto à casa, pudemos realizar mais de trinta e cinco exposições e uma dúzia de outros programas, colaborando com mais de 200 artistas de diversas regiões do país e do mundo”, relata Bernardo Mosqueira “. “Mas, depois de cinco anos de discussões sobre o imóvel – tanto para garantir sua posse quanto sua manutenção física – percebemos que seria mais proveitoso usarmos nosso tempo, energia e afeto cuidando das relações com artistas e com a programação que oferecemos para as comunidades que nos formam”, completa Adriano Carneiro de Mendonça.
MANJAR
Dentre as várias ações que congregaram milhares de pessoas, uma das mais marcantes é o Manjar, uma plataforma expositiva experimental que reúne e comissiona trabalhos de arte, música, performance, dança, educação e gastronomia para proporcionar experiências “onde o aprendizado se dá de maneiras interdisciplinares e indisciplinares”, comentam. Em 37 edições, o Manjar reuniu mais de 200 artistas e 23 curadores, pesquisadores e educadores de 24 países e 19 estados brasileiros, recebendo no total mais de 35 mil pessoas. Ao longo desse período, o Solar articulou doações de obras realizadas para edições do Manjar para as coleções do Museu de Arte do Rio (MAR) e do MAC Niterói, por artistas como o cubano Carlos Martiel, o dominicano Engel Leonardo e o mineiro Thiago Honório, entre outros.
NOVO SITE + PROJETO CICLO SOLAR 2021
Com lançamento previsto ainda neste semestre, o novo site do Solar dos Abacaxis projetado pelo coletivo O Grupo Inteiro abrigará toda a memória do Solar e será uma plataforma expositiva online experimental para novas ações, incluindo a possibilidade de se transformar para receber obras comissionadas especialmente para esta interface interativa. O site contará ainda com espaço para acessar portfólios, publicações e referências relativas aos artistas que colaboraram com a instituição nos últimos cinco anos, tornando-se também um espaço para pesquisa, troca e aprendizado.
Outro importante projeto em andamento é o Ciclo Solar 2021, que prevê a realização de três edições de uma experiência artística em espaços públicos do Rio e na nova plataforma digital do Solar. Cada um dos ciclos se propõe a pensar a cidade do Rio de Janeiro a partir de diversos ângulos, como um espaço expositivo em que a arte ocupa locais não usuais, e acessa o público de maneira inusitada. Com as instituições fechadas e artistas isolados em suas casas e ateliês, a ideia é pensar novas formas para ativar o espaço virtual e expandir a experiência da arte para o espaço da cidade. “Tanto o corpo da cidade como os espaços virtuais são territórios de disputa, negociação, expressão e invenção. Nos interessa trabalhá-los como plataformas importantes de troca e criação”, explica Bernardo Mosqueira.
Cada ciclo parte de uma curadoria convidada do Brasil e de outros países da América Latina, reunindo artistas para desenvolverem outros projetos de mundo exercitados em espaços urbano e digital. Ao mesmo tempo em que serão apresentadas obras de artistas contemporâneos em espaços públicos no Rio, haverá desdobramentos na plataforma digital. Haverá ainda um programa pedagógico para as atividades digitais e físicas, além de ações sociais com foco em educação para crianças de oito a doze anos. O projeto, previsto para o próximo verão, foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e está na fase de captação de patrocínio.