Completando 60 anos de carreira em plena atividade, a artista plástica Pietrina Checcacci, a convite de Carlos Bertão, ganha uma exposição à altura do seu talento e importância. Em “Pietrina Checcacci – 60 anos de Arte”, que abre no do dia 03 de novembro, no Centro Cultural Correios, serão apresentadas cerca de 100 obras entre pinturas, desenhos, esculturas, aquarelas e serigrafias que traçam um panorama da longa carreira da artista ítalo-brasileira, além de trabalhos inéditos feitos especialmente para a exposição.
Com curadoria de Carlos Bertão e design expográfico de Alê Teixeira, a mostra faz um passeio, em ordem cronológica, por diversas fases de criação da artista plástica e as muitas interseções entre elas, com temas que ressurgem de tempos em tempos, sempre com um novo olhar. Com destaque para o corpo humano, sempre presente, das mais variadas formas.
– Acho que a exposição vai ser uma surpresa até para mim porque vou rever 60 anos de trabalho de uma forma que nunca vi. Ao longo desse tempo, foram mais de 20 fases. E a cada fase, fim e recomeço mantêm uma mesma base, raiz e coerência de pensamento. Novo tema, nova proposta, novo enfoque, nova técnica, mas sempre a continuação do passo a passo criativo. Renovações que não impedem que após terminada, uma fase reapareça em nova forma e outras soluções complementares – conta Pietrina.
Um exemplo é a série “Povo Brasileiro”. Sua primeira versão, nos idos dos anos 1970, tinha um certo ar naïve e retratava operários, trabalhadores, políticos, jovens, fumantes e censores. Já sua versão 2020 surge com cores mais vibrantes e ainda mais politizada em sinergia com um povo que é mais consciente, informado e superconectado. O resultado são pinturas que retratam personagens como um Clóvis repleto de celulares, políticos (Moro e Bolsonaro, entre eles) e até a menina Ágatha (morta por PMs no Complexo do Alemão). Suportes e materiais também se modernizaram. Se há 50 anos, as pinturas encantavam em estandartes feitos de cânhamo, agora, elas estão em telas sem chassi que ganharam um suporte especial para simplesmente flutuar na parede.
Diversidade de materiais e técnicas, aliás, não são nenhuma novidade para Pietrina que sempre fez questão de manter uma criação muito variada. Reflexo direto de sua formação na Escola Nacional de Belas Artes, onde teve como contemporâneos grandes nomes como Carlos Vergara, Roberto Magalhães, Solange Escotegui, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Paiva Brasil e Ivan Freitas.
– Era uma patota que discutia e debatia artes, costumes, ética e estética. Divagávamos tardes inteiras no diretório da escola. Foi na ENBA que aprendi a trabalhar com todo tipo de material e técnica. Isto me proporciona uma liberdade criativa imensa – destaca a artista.
E o resultado poderá ser visto na exposição. Montada em duas salas do terceiro andar do Centro Cultural Correios, que somam cerca de 500 metros quadrados, a mostra apresenta, em ordem cronológica, trabalhos de todas as seis décadas de arte de Pietrina, desde 1960 até 2020.
– Essa exposição é, na verdade, uma oportuna e merecida homenagem a uma grande artista plástica. Quem ainda não conhece o trabalho de Pietrina, poderá se deleitar ao vê-la pela primeira vez de forma completa, conhecendo todo o seu trabalho desde o início dos anos 1960 até hoje – avalia Carlos Bertão, curador e produtor da mostra.
O público certamente perceberá que apesar das muitas mudanças, um tema é recorrente: o corpo humano. Ele está sempre presente. Seja nas suas famosas esculturas, seja nas pinturas. Por vezes descontruído, por vezes visto através de uma lente grande angular. Ora apresentado como terra, montanha ou paisagem. Ora representado como um botão de rosa ou um asteroide.
– Todo o meu trabalho gira em torno do ser humano, da terra, do universo, da vida e da morte. Mas o homem é minha maior referência, a forma como vemos o mundo. Por isso, o corpo humano aparece em tantas fases – explica Pietrina.
Outro destaque da exposição é a apresentação, em vitrines, de quatro selos desenhados pela artista, a convite dos Correios, entre 1978 e 1984. Dois deles chegaram a ganhar prêmios mundiais – que também estarão expostos.
A exposição “60 Anos de Arte” fica em cartaz no Centro Cultural Correios até o dia 24 de janeiro de 2021.
Sobre a artista
“Racionalmente italiana, emocionalmente brasileira”. É como Pietrina Checcacci, nascida em Taranto, na Itália, em 1941, gosta de se definir. Cidadã honorária carioca, chegou na cidade aos 13 anos, quando deixou com os pais a Europa do pós-guerra. E logo começou a se dedicar às artes e à literatura. “Desde os 5 anos, sabia que seria artista”, conta, lembrando a menina que na adolescência devorava dois a três livros por semana, sempre emprestados de bibliotecas públicas em Copacabana, onde morava com a família. Ilustrações suas feitas sobre a obra Dom Casmurro estão até hoje no Colégio Amaro Cavalcanti, onde estudou. Os estudos formais nas artes começaram em 1958, quando ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Ali, foi premiada duas vezes com medalha de ouro. Desde então, participou de inúmeras mostras internacionais e coletivas no Brasil, Itália, Portugal, Espanha, Estados Unidos e países latino-americanos. Entre as incontáveis exposições individuais destacam-se as realizadas na Galeria Documenta e Skultura Galeria de Arte, em São Paulo, AM Niemeyer, Galeria Gravura Brasileira, Museu Nacional de Belas Artes, além dos principais museus e galerias das capitais brasileiras. Suas obras estão nos acervos de museus e galerias de arte do Brasil e integram importantes coleções nacionais e internacionais. Entre suas premiações, destacam-se o “Prêmio de Viagem ao Estrangeiro”, do Salão Nacional de Arte Moderna (1974); a inclusão nos “Destaques da Pintura Brasileira da Década de 70”, pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1980) e ainda o “Prêmio São Gabriel” (1977) e “Rosa de Prata” (1982), na Itália.
PIETRINA CHECCACCI – 60 ANOS DE ARTE
Quando: de 3 de novembro de 2020 até 24 de janeiro de 2021
Onde: Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20/ 3º andar – sala B. Centro). Tel.: 2253-1580.
Horário: terça a domingo, das 12h às 19h
Entrada Franca